VALADARES ESTÁ OUTRA VEZ EM MOVIMENTO

Valadares morreu, renasceu e já fatura milhões Elisabete Felismino Ontem 942 A braços com um passivo de 90 milhões de euros, a Cerâmica de Valadares fechou portas. Dois anos depois reabriu e hoje fatura 5 milhões de euros e emprega 100 pessoas. O futuro passa por crescer. São oito da manhã na pequena vila de Valadares, concelho de Vila Nova de Gaia. Entoam as sirenes da Arch, ex-cerâmica de Valadares, outrora o maior ganha pão da região, que voltou a laborar. Os trabalhadores — em menor número, é certo — entram apressados a fazer recordar outros tempos. A empresa que chegou a faturar 25 milhões de euros e a empregar 650 trabalhadores e que, em 2012 se viu a braços com um processo de insolvência, renasceu das cinzas. Hoje, dois anos depois de ter voltado a trabalhar e, apesar de ainda longe dos números e da azáfama de outros tempos, vai calcorreando caminho e (re)conquistando o seu espaço. Rui Castro Lima, o administrador de insolvência, teve um papel fundamental no processo: encontrou uma empresa pronta a “arrancar no dia seguinte, com um número significativo de pessoas interessadas em mantê-la a trabalhar, desde que houvesse quem quisesse pegar nisto”, realça Henrique Barros, atual CEO da empresa e um dos três ex-quadros desafiados pelo administrador de insolvência a estudarem a viabilidade da Valadares.   Os três engenheiros (Henrique Barros, Rocha Ferreira e Jorge Borges) escolhidos pelo administrador de insolvência defenderam a viabilidade da Valadares, ou melhor, uma nova empresa que ficasse com a marca Valadares. O argumento era de que o know how estava lá: a escola — porque a Cerâmica de Valares era uma escola para o setor — continuava a existir, mas o passivo superior a 90 milhões de euros tinha de sair. Estava dado o mote para a criação de uma nova empresa, uma nova realidade empresarial e uma nova filosofia na componente do mercado. Mas os tempos não eram de facilidades. Em 2013, a economia portuguesa estava a atravessar uma grave crise — com a troika em Portugal –, e o capital escasseava. Ainda assim, a equipa de gestão consegue encontrar um grupo de dez investidores, entre os quais ex-quadros da empresa, o que acabou por dar alguma confiança aos investidores que vinham de fora. A equipa de gestão assumiu 12% do capital. Os astros pareciam finalmente alinhados: os trabalhadores abdicavam de 50% dos créditos que tinham junto da Cerâmica de Valadares (no total eram 10,5 milhões de euros) e o principal credor da empresa, o BCP (74,2 milhões de euros), não se opunha à solução encontrada. Nasce a Arch A nova empresa, a Arch – Advanced Research Ceramic Heritage, contrata inicialmente vinte pessoas — todas ex-trabalhadores da antiga fábrica e ocupa, por aluguer, as ex-instalações da centenária Cerâmica de Valadares. O contrato com a massa insolvente prevê o aluguer do espaço pelo período de cinco anos. A Arch ficou também na posse do stock que existia, na ordem dos seis milhões de euros, tendo, no entanto, que entregar à massa falida 30% do valor gerado.  A empresa tinha reunido 500 mil euros de investimento e o compromisso por parte dos investidores de estarem cinco anos sem receberem dividendos. Hoje a Arch já investiu perto de 1,2 milhões de euros, entre “a ampliação de algumas áreas e marketing, uma vez que trabalhamos com o cliente quase final, e isso obriga a um esforço significativo de promoção da empresa”, explica Henrique Barros. A Arch só arrancou com a produção industrial propriamente dita três meses depois do arranque. E as 20 pessoas inicialmente contratadas cresceram para as 85 pessoas no final de 2015, e perto de 100 em dezembro de 2016.

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