CASA COM GEOMETRIA



Linguagem pura, de geometria complexa, matematicamente orgânica na forma como os planos perfeitos poisam no terreno, como se relacionam se aproximam e se afastam. Porque os opostos atraem-se, sempre.

Três pisos sobrepostos, numa escala segura: o apoio, o coração e o sonho. Três planos de espaços que são um só espaço, um só corpo e uma só alma. Por ali circula-se, caminha-se e vive-se...

Primeiro, o apoio: uma garagem e suas zonas técnicas. Auxilio para um dia a dia doméstico com dois longos planos que deixam adivinhar o que virá.

“(...)Arrumo o carro quando chego. Poiso tralhas na despensa e subo.(...)”

Segundo, o piso nobre, o coração da habitação, onde o quotidiano ganha estrutura. Há um corpo, assumidamente longitudinal, que se projecta sobre a paisagem, que é forte, que marca o passo. O percurso de entrada é controlado, definido e reservado. Quase etéreo no seu pé direito. Caminhamos na direcção da paisagem e no fim, o percurso abre-se sobre a sala que, como é devido, é onde bate mais forte o coração. E o olhar abre-se. Tudo obriga o olhar a abrir, a subir, a respirar. A cobertura, inclinada, conduz-nos para o mezanino, mas o corredor, que nos leva à cozinha, concorre nesta luta sã de perspectivas, cotas, escalas, planos... A disposição dos espaços é lógica, metódica, de fácil leitura, mas sem facilitismos no desenho. Por detrás da circulação, contínua e natural, sente-se o cálculo de espaços, orientações e volumetrias, não há acasos no acaso de um plano. E a cozinha, habitualmente escondida de vergonha, aqui está em aberto e espreita, por um canudo, a sala que também é dela. Nada é acaso, tudo é valorizado.

(...)Vejo a cozinha e a sala e subo mais.(...)

Por fim, o terceiro, onde o corpo descansa, onde a alma sonha e a fantasia gera ideias. São os quartos que se abrem para o mezanino, sobre a sala. São os quartos que, em três orientações diferentes, namoram a paisagem. São os quartos que nunca se atropelam num corredor, o espaço de espreitar a vida é deles. São três quartos e um espaço, sobre o bater do coração.

(...)Vejo os quartos e o balanço sobre a sala e não te vejo.

Desço de novo, pelas mesmas escadas que te moldam e, por um óculo, espreito para o outro lado da parede. Estás aí?!(...)

Dentro e fora, as matérias completam o discurso, enriquecem-no, tornam-no mais denso e mais consistente. Brancos, castanhos, metálicos, pretos, cinzas e as sombras que passam, as portas escondidas. É assim o sentir no Vidigal. Uma carga visual controlada, um aglomerado de matérias, texturas, cores e formas. Uma arquitectura de rectas que circundam vivências. E lá fora é a cobertura, imagem de marca, que desliza sobre nós que flutua, segura, sobre nós.

Desliza, toca, flutua, segura-te.

Sobe!

Sobe por essas escadas que moldam a tua forma...

E vê, aí de cima, a paisagem que é tua.                  

http://www.diarioimobiliario.pt/Espacos-de-Autor/Uma-casa-que-desliza-toca-e-flutua

Comentários

Mensagens populares