Zona do Campo Pequeno é apontada como a melhor para viver em Lisboa

Carlos Sousa, um dos fundadores da empresa Streetics, está ligado ao mercado imobiliário há 15 anos e foi dele que partiu a ideia. "Percebi que uma pessoa quando vai à procura de uma casa numa zona que não conhece tem dificuldades em aceder a informações sobre essa área", diz o empresário. "As alternativas são quem habita na zona ou o próprio agente imobiliário." Para resolver o problema, Carlos Sousa e Mauro Nunes apostaram numa plataforma informática onde é possível obter dados sobre as ruas. O objectivo da empresa consiste em estabelecer parcerias com sites imobiliários "para que as pessoas, quando procuram as características do imóvel possam ver a classificação que é dada por nós à zona do imóvel." Carlos Sousa não receia que uma avaliação menos positiva afaste as futuras parcerias pois acredita que a ferramenta irá agilizar o processo de arrendamento ou compra de imóveis, uma vez que uma maior partilha de informação evitará que "ambas as partes percam tempo com algo que não é o que pretendem". A equipa estabelece a sua classificação com base numa avaliação, através da qual é calculada uma média global que servirá de indicador, de 0 a 20, sendo que o 20 corresponde à classificação máxima (StreetRank). Os responsáveis por esta classificação habitam nas cidades que avaliam e "têm alguma ligação ao sector imobiliário, um background relacionado com urbanismo ou geografia e têm um grande conhecimento destas áreas", frisa Carlos Sousa. "É uma classificação factual, são parâmetros que confirmamos." Para além disso, a empresa tem em consideração quatro parâmetros (de cariz pessoal) que podem ser votados por qualquer pessoa através de registo gratuito no site, surgindo assim o CrowdRank. Os critérios de classificação baseiam-se na centralidade (sendo que no caso de Lisboa ela é calculada tendo como ponto de referência a zona do Saldanha, a partir da qual foram estabelecidos círculos concêntricos, com um determinado valor), espaços de estacionamento, áreas verdes, abundância de comércio, disponibilidade de vários serviços, facilidade de transportes, espaço para exercício seguro e ambiente - sendo que os últimos quatro são de cariz pessoal da equipa e dos CrowdRanks. Para além desta avaliação, a plataforma acrescenta informações relativas à esperança de vida, que Carlos Sousa diz serem disponibilizadas pelo Banco Mundial e pelo Instituto Nacional de Estatística, e relativas ao coeficiente de localização (que é determinante para o cálculo do Imposto Municipal sobre Imóveis e é estabelecido pela Autoridade Tributária e Aduaneira). Finalmente, o risco sísmico e o risco de inundação são aqui usados a partir de dados da Protecção Civil. A avaliação está em permanente actualização, face às constante alterações verificadas nos centros urbanos, seja a abertura de uma nova estação de metro ou o encerramento de um supermercado. Acerca deste tipo de índices, o professor e geógrafo João Seixas, apesar de louvar a existência de "cada vez mais preocupações com a qualidade de vida e uma tendência em Portugal para olhar com mais atenção para a qualidade de vida urbana", alerta para o perigo dos rankings. "Os rankings segregam ideias. Qualificam generalidades. Escamoteiam diversidades. As suas visões são de design demasiado básico, e só para alguns. Embora estes contem, e muito, para propor tendências, a economia e a qualidade de vida não se fazem apenas com meia dúzia de linhas", escreveu recentemente João Seixas. A preocupação do geógrafo reside na falta de rigor científico com que é normalmente feita a maior parte destes indicadores e sublinha que "é importante que haja abrangência, referências e representatividade". "Mesmo quando há muitas pessoas a dar uma opinião, essas pessoas têm que ter uma determinada representatividade. Não é representativo do bairro se as pessoas que dão a sua opinião vivem todas no mesmo prédio" exemplifica. "É necessário avaliar as dimensões da vida humana e a vida nas cidades é uma delas. Não tem de haver só a avaliação de uma entidade pública e é importante que existam outras entidades que se dediquem a isso." No ranking disponível no site da empresa surgem 22 cidades de vários países. Lisboa é referida como a décima oitava melhor para se viver, sendo a zona do Campo Pequeno a mais bem classificada.

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